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Sun, Apr

Enquanto as gerações passadas não derem espaço ao perdão e à novidade do Espírito, o projeto de Família Paulina não passará de uma utopia. Enquanto as novas gerações insistirem em cultivar uma ferida que não é sua – perpetuando desafetos históricos – não haverá espaço para a sinodalidade na Família Paulina.


A primeira vez que escutei a palavra “altriz” foi no Encontro Vocacional de 2010, na Cidade Paulina (São Paulo). Naquele momento, não tive muita clareza do significado de tal expressão. Com o tempo – sobretudo depois do noviciado – comecei a refletir sobre o “peso” desta pequena palavra e, pouco a pouco, tentar compreender sua profundidade carismática.

Em nossas constituições está escrito que a Pia Sociedade de São Paulo é “altriz de toda a Família Paulina”. Pesquisando o seu significado, o “ChatGPT” diz que “a palavra altriz não existe em português”. Já o dicionário on-line “Priberam” esclarece: altriz é a “parte nutritiva de uma substância; a que alimenta”. O dicionário Aulete digital explica: a palavra altriz significa aquela “que nutre ou sustenta”.

Portanto, já temos base suficiente para dizer que os Paulinos “nutrem, alimentam e sustentam” a família Paulina. Em que sentido? As constituições esclarecem: à Sociedade de São Paulo “compete o relacionamento com as outras congregações e institutos paulinos”, bem como, a promoção da unidade entre eles, segundo o espírito do fundador, “no respeito e na valorização do carisma de cada um”. E mais: “em harmonia com as superioras gerais das quatro congregações femininas paulinas”, a Pia Sociedade de São Paulo “assegurará às suas comunidades, a assistência religiosa, moral e apostólica, segundo as possibilidades concretas...”.

Criar relações, promover a unidade, respeitar, valorizar, assegurar assistência religiosa, moral e apostólica... Quantas exigências e possibilidades! Temos horado o título de “atriz”? Quantos de nós, ainda acredita na unidade da Família Paulina? O que temos feito, concretamente, para romper as diferenças e recriar os laços carismáticos que nos unem? Quão distante está o nosso discurso da prática cotidiana?

O Documento final do X Capítulo Geral da Pia Sociedade São Paulo (n.5) enfatiza que é preciso “assumir com responsabilidade a tarefa carismática de ‘altriz’, própria da Sociedade de São Paulo, a serviço de TODAS as instituições da Família Paulina...”, promovendo, “com indicações pertinentes, uma concreta colaboração apostólica com a Família Paulina em cada Circunscrição”, bem como, “na promoção de projetos apostólicos convergentes”. Até que ponto nos esforçamos para concretizar tais propostas?

Quando, por motivo raso ou egoísta, dizemos não à Família Paulina, nós estamos dizendo não ao sonho do fundador. Para alguns, tristemente, o ideal de “Família” acaba com o juniorado. Contaminados pela síndrome do “filho único”, não participam de nada que se refira à Família Paulina. Todavia, estou cada dia mais convencido de que a maior prova de que compreendemos a grandeza do carisma paulino é a nossa capacidade de ser e agir como “altriz”, ainda que em pequenos gestos e situações. As poucas renúncias que fizermos, em prol da unidade da Família Paulina, se transformarão em bênçãos para a nossa própria vocação.

Se soubéssemos o poder que temos enquanto Família – na igreja e na sociedade – certamente, não perderíamos tempo com as marcas do passado. Se compreendêssemos o tamanho da sede que as pessoas têm de Deus e de sua Palavra, deixaríamos de lado toda e qualquer indiferença pelo anúncio do Evangelho. Para isso, diria o Padre Alberione, é preciso começar do apostolado da “vida interior”, sem o qual não é possível “caminhar juntos”. “Maldito o estudo, o apostolado... pelo qual se abandona a oração”, diz o fundador. Maldita a ambição mercadológica que, porventura, levar o “altriz” à exploração da Família Paulina, em vez de promover a sua difusão e crescimento. Quem assume a missão de “nutrir, alimentar e sustentar” – para além da Celebração Eucarística – deixa de lado as ilusões da competitividade e cede lugar ao Evangelho em mútua colaboração. Eis um desafio urgente, necessário, para a vida toda.

O tema da sinodalidade tem sido recorrente nas reflexões do Papa Francisco e dos governos gerais da Família Paulina. O diálogo entre as gerações, diz o Papa, “é a base para a realização de projetos compartilhados. Rezar juntos, auxiliar juntos, partilhar histórias de vida, alegrias e lutas comuns, abre a porta à obra reconciliadora de Deus”.

Ainda temos um longo caminho a percorrer rumo à autêntica fraternidade na Família Paulina. Este caminho, porém, começa com as pequenas coisas. É a gratuidade dos pequenos gestos que nos salva da indiferença. Todavia, enquanto as gerações passadas não derem espaço ao perdão e à novidade do Espírito, o projeto de Família Paulina não passará de uma utopia. Enquanto as novas gerações insistirem em cultivar uma ferida que não é sua – perpetuando desafetos históricos – não haverá espaço para a sinodalidade na Família Paulina.

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April 28, 2024

V di Pasqua (bianco)
At 9,26-31; Sal 21; 1Gv 3,18-24; Gv 15,1-8

April 28, 2024

* FSP: 1994 a Santiago de los Caballeros (Rep. Dominicana).

April 28, 2024SSP: D. Vincenzo Mancardi (1973) - D. Luigi Ranieri (1982) - D. Sergio Costamagna (1993) - D. Giovanni Turco (2007) - D. Nicola Baroni (2019) • FSP: Sr. Margherita Boetti (1979) - Sr. Ester Innocenti (2003) - Sr. Cristina Pieri (2010) • PD: Sr. M. Agape Saccone (2008) - Sr. M. Carlina Cadavid Velásquez (2021) • IGS: D. Angelo Noto (1988) - D. Ennio Ori (2009) - D. Vincenzo Giunta (2016) • IMSA: Amelia Aguirre (2009) - Leonila Ricafort (2022) • ISF: Paola Taormina (2017) - Vincenzina Cardoni Mazzanti (2018).