Testemunho de um paulista no Conselho de Comunicação do maior evento religioso e católico do mundo

Dos dias 1 a 6 de agosto deste ano, a cidade de Lisboa, em Portugal, receberá milhares e milhares de peregrinos advindos de todos os Continentes para viver e celebrar aquele que, a meu ver, pode ser considerado o maior encontro católico do mundo. Estou falando da Jornada Mundial da Juventude (JMJ), um evento esperado pelos jovens de todo o mundo para estarem com o Santo Padre e se encontrarem uns com os outros. É um grande laboratório de fé e fraternidade. Este grande encontro, como sabemos, estava previsto para acontecer, aqui em Lisboa, ainda em 2022, mas, devido à Pandemia da Covid-19, esta edição teve de ser adiada por um ano. Felizmente, está chegando o grande dia! Portanto, desde 2019 – com a JMJ Panamá – que a juventude aguarda por esse reencontro com o querido papa Francisco. A primeira edição da JMJ foi em 1986, a convite de São João Paulo II; esta acontece todos os anos, a nível diocesano, e de três em três anos, a nível mundial.

Mas, afinal, o que acontece de tão grandioso durante esse período? Bem, ao longo de uma semana, os peregrinos, provenientes de todo o mundo, são acolhidos, na sua maioria, em instalações públicas – ginásios, escolas, pavilhões –, em paróquias ou em casas de famílias. Além dos momentos de oração, partilha e lazer, os jovens participam em várias iniciativas organizadas pela equipa da JMJ, em diferentes locais da cidade que a acolhe. Os pontos altos são as celebrações (atos centrais) que contam com a presença do Papa, tais como a cerimónia de acolhimento e abertura, a via-sacra, a vigília e, no último dia, a missa de envio. Várias congregações religiosas aproveitam a JMJ para fazerem os seus encontros mundiais com os movimentos juvenis reunindo, assim, seus milhares de jovens que vivem e bebem de seus carismas específicos nos mais diversos países.

A JMJ Lisboa 2023 terá uma particularidade. É verdade que cada edição é especial, mas esta, em particular, tem um grande desafio: comunicar o evento para um público de faixa etária totalmente digital. Ou seja, os jovens que participarão deste encontro nasceram neste ambiente digital, nativos, chamados de Geração X ou Geração Digital. Neste sentido, o convite do papa Francisco, em suas várias mensagens aos organizadores, é sempre o mesmo: “promover uma comunicação capaz de chegar, de forma criativa e poética, aos corações de todos os jovens, estejam eles no encontro ou a acompanhar no ecrã do seu telemóvel”. É esse, por providência, o tema da Mensagem para o 57ª dia Mundial das Comunicações Sociais: Falar com o coração. “Testemunhando a verdade no amor” (Ef 4, 15) Ou seja, uma comunicação eficaz, por mais mediada que seja digitalmente, deve ter sempre presente a realidade do coração.

Sou jornalista de formação. Fui o primeiro Paulista formado em comunicação da Faculdade Paulus de Tecnologia e Comunicação - FAPCOM. É motivo de orgulho. O convite para fazer parte do Conselho de comunicação partiu por parte do prelado e presidente da Fundação, D. Américo Aguiar. “O senhor é paulista”, disse ele. E continuou “e é da comunicação, não é?! Precisamos de um padre para a comunicação e um padre que saiba de comunicação!” Foi com esta expressão que aceitei o desafio de acompanhar o departamento de comunicação que hoje funciona com mais de 100 voluntários e colaboradores. Não é só pensar a comunicação ou apenas falar da comunicação, mas, vivê-la e experimentá-la no encontro com o outro e, como diz o papa Francisco, “não basta circular pelas ‘estradas’ digitais, isto é, simplesmente estar conectados: é necessário que a conexão seja acompanhada pelo encontro verdadeiro” (DMCS, 2014). Neste sentido, a minha missão no departamento é, sobretudo, criar estratégias de campanhas,  aprovar conceitos, validar iniciativas, acompanhar voluntários, acompanhar jornalistas, gerir crises, pensar e acompanhar orçamentos, dentre outros. Em outras palavras, esta será uma experiência única e inesquecível em minha vida, não apenas como jornalista, mas, sobretudo, como paulista e sacerdote.

Este breve testemunho, longe de ser um autoelogio, trata-se de um convite motivador e necessário a todos os paulinos, especialmente às novas gerações, aos estudantes: não esqueçam a comunicação! Sejamos religiosos, homens de oração, mas sejamos também “profissionais” da comunicação, isto é, pessoas capazes de “falar de tudo cristãmente”, conforme indicava o Padre Tiago Alberione, mas que conhecem as ferramentas e as técnicas comunicacionais. Assim, enquanto paulinos comunicadores, devemos ocupar espaços de assessorias, direções, coordenar movimentos de comunicação e tantas outras maneiras de colaborar com a comunicação da Igreja. Devemos falar de comunicação empresarial, eclesial e, obviamente, não ter medo de ser paulinos também nas mídias sociais que, na visão do papa Francisco, podem ser “um lugar rico de humanidade”. Em outras palavras, não me refiro à comunicação por comunicação, mas, uma comunicação profunda e autêntica, capaz de transformar pessoas e, ao mesmo tempo, conduzi-las para mais perto de Deus e de si mesmas. A comunicação verdadeira parte da vida espiritual, mas, como dizia o nosso fundador, ela não pode ignorar os meios “mais rápidos e eficazes” de transformação da humanidade.

Portanto, é preciso despertar nos jovens deste tempo o amor pela comunicação, não aquela comunicação imediatista e vazia, mas, a comunicação que nasce de dentro e nos leva à comunhão e ao encontro com o outro. Penso que seja importante voltar a insistir na importáncia da formação académica. De repente, alguém pode jusiticar-se: “não temos tantos meios” – televisões, rádios, periódicos ou outras plataformas. Contudo, se nós paulistas estivermos bem inseridos no seio da comunidade eclesial e da Família Paulista, conforme nos indica a Mensagem do Superior Geral, Padre Domenico Solliman, para este ano de 2023, a nossa comunicação será sempre eficaz e transformadora. De igual maneira, eu penso que a nossa inserção em núcleos da Igreja, nos movimentos e pastorais, tende a tornar a nossa acção comunicativa muito mais eficaz e abrangente, visto que ali forma-se oficina, forma-se comunicadores, no caso de centros de estudos e universidades. Se, para muitos na Igreja, a comunicação é um aspeto da missão, para nós, filhos de Alberione, a comunicação é a razão da nossa existência, sem a qual, o nosso carisma perderia a cor. Primeiro para anunciar o Evangelho – o Verbo Eterno do Pai – mas também para sermos apóstolos da Verdade em um mundo fragmentado e cheio de mentiras vestidas de verdades (fakes news). Diante dessas ilusões, a nossa missão como Paulistas é também a de transformar a sociedade midiatizada em um ambiente mais humano, verdadeiro e fraterno. Eis o desafios do nosso tempo!

Por fim, a Igreja atualmente, mais do que nunca, está a precisar da comunicação. Como disse anterimente, não de uma comunicação reativa, mas uma comunicação estratégica baseada no encontro, na ternura e no diálogo com todos. Para isso é urgente conhecermos as novas linguagens, possibilidades e desafios das mídias sociais. Como se faz isto? Estudando e exercendo a sadia curiosidade, diria o padre Alberione. Se no tempo do nosso Fundador o modernismo era a grande ameaça e preocupação no interno e externo da Igreja, hoje em dia são muitos os “ismos” que atacam e tentam destruir a fé e a esperança da humanidade. Todavia, seguimos confiantes na promessa do Mestre: “O poder do inferno não prevalecerá sobre ela” (Cf. Mt 16,18). Sendo assim, precisamos, caros irmãos, estar preparados, tanto espiritualmente quanto tecnicamente, a fim de enfrentarmos, com sabedoria, os desafios propostos pelas novas formas de comunicação, dentro e fora da Igreja.

Que a Jornada Mundial da Juventude seja um tempo fértil para lançarmos a boa semente do Evangelho nos corações inquietos e esperançoso da juventude e, assim, repensarmos a grandeza de nossa missão como apóstolos da comunicação social.