28
Dom., Abr.

di Stefano Zamagni

 

Artigo publicado na Gazzetta d'Alba

 

Concluímos as conferências sobre “Tiago Alberione empreendedor de Deus” com a colocação de Stefano Zamagni que teve lugar dia 28 de novembro no palaAlba. O estudioso riminês percorreu a figura do fundador da Família paulina no contesto econômico e empreenditorial de Novecentos, com uma projeção ao futuro quer da economia quer da comunicação, então já marcadas em cheio pela quarta revolução industrial. Stefano Zamagni, nascido em 1943, é um economista e acadêmico italiano, reconhecido em todo o mundo por seus estudos em matéria de economia social, tendo publicado numerosos ensaios. De 27 de março de 2019 é presidente da Pontifícia academia das ciências sociais. Nos anos juvenis esteve na Giac, colaborando com padre Oreste Benzi no seu projeto educativo. Formado em economia e comércio na Católica de Milão, se especializa na Universidade de Oxford. Retornado à Itália, é nomeado consultor do Pontifício conselho da justiça e da paz. Em 2007 o Governo Prodi II o nomeia presidente da Agência para as Onlus. Passa a figurar entre os colaboradores de Bento XVI para a redação da encíclica Caritas in veritate.

 

  1. No sulco do humanismo franciscano

O título que me foi confiado é “Padre Alberione empreendedor de Deus”. Então a primeira pergunta que emerge é: o que quer dizer empreendedor? Preciso que os termos empresa/empreendedor foram cunhados pela primeira vez em 1739 por obra de um economista irlandês que se chamava Cantillon Richard. Antes não havia a palavra empresa/empreendedor, porém existia a essência, o agir empreendedoral. Trouxe um trecho, que melhor de todo outro revela quanto acabo de dizer, de Coluccio Salutati, porque o agir empreendedoral nasce historicamente entre o fim de 1300 e 1400, o século do humanismo civil, e nasce na Itália. Não nasce alhures como alguém, algum professor pensa de saber e não sabe nada, como anda dizendo e ensinando. A figura e o agir empreendedoral nasce naquele território que nós associamos à Toscana de hoje, à Úmbria e assim por diante, e que é o ponto de chegada, o humanismo, da escola de pensamento franciscana porque, como sabeis, os primeiros grandes economistas foram todos, todos, todos (já o disse três vezes), franciscanos; também isto ocorreria que alguém, sobretudo se revestido de autoridade, o relembrasse; não para se vangloriar, não porque devemos dizer ao mundo, mas para relembrar a verdade histórica.

Pois bem, há um escrito de Coluccio Salutati, empreendedor (ainda que então, em 1400, não tinha esse nome), o qual havia se tornado animador do Círculo do Espírito Santo, em Florença. Ouvi o que escrevia: «Consagrar-se honestamente à honesta atividade econômica pode ser uma coisa santa, mais santa que um viver no ócio em solidão, pois a santidade conseguida numa vida rústica ajuda somente a si mesmo, mas a santidade da vida na atividade eleva a existência de muitos». Estamos em 1437. Dizei-me vós se esta não é uma frase que, também no âmbito da Igreja, foi esquecida: seria necessário recuperá-la, porque alguém que chega a dizer que são muitos os caminhos da santidade, mas que o caminho da santidade do empreendedor é mais elevado que os outros porque o empreendedor escolhe um caminho (e o exemplo do Pe. Alberione é um claro testemunho a respeito), age para o bem dos outros; se eu, ao invés, santifico a minha vida restando em isolamento...

Agora, não entro em mérito quanto à disputa teológica, porém, é significativo que desde então, no início de 1400, havia pessoas que falavam assim, e não era somente Coluccio Salutati, eu o citei porque a sua obra foi reimpressa apenas há dois anos.

 

  1. Orientado ao futuro

E então: quem é o empreendedor? Porque, antes de dizer que padre Alberione é empreendedor de Deus, é mister que se especifique quem é, qual é a figura do empreendedor. O empreendedor é um que arrasta; o manager ou o dirigente é um que empurra; portanto o empreendedor não deve ser confundido com o manager que desenvolve uma ação importante (além disso, manager, palavra obviamente de uso ora comum, deriva do italiano). Por isso nós o queremos chamar dirigente; o manager é um que empurra; o empreendedor, como o líder, é um que arrasta e já por isso entendeis uma primeira diferença relevante.

Em segundo lugar, o empreendedor é alguém que tem uma visão, uma visão do futuro; neste sentido o empreendedor é guiado em seu âmbito por uma bússola; o manager é guiado por um mapa.

É obviamente uma metáfora, mas de fácil compreensão. O manager precisa de um mapa, isto é, de algo que lhe diga: é preciso fazer isto, isto, isto, depois ele procurará fazê-lo no melhor modo; no modo, como se diz em economia, mais eficiente e é importante que seja claro.

O empreendedor, ao invés, tem uma bússola. O que faz a bússola? A bússola te dá a orientação. A palavra sentido, na língua italiana, quer dizer direção; portanto o empreendedor é um que deve ter uma bússola. E vós entendeis que ter uma bússola quer dizer ter uma referência de valor que não necessariamente o manager deve ter. Se a tem, melhor ainda, porém, não é necessário.

 

  1. A capacidade de decidir e fazê-lo com sabedoria

Terceiro: o empreendedor é um que decide; o manager é um que escolhe. Vós direis: mas não são a mesma coisa? Obviamente não! Uma coisa é decidir; outra é escolher. E qual é a diferença? Decidir é a operação de quem deve selecionar uma opção entre as que estão disponíveis, das quais, porém, não conhece as características, sobretudo não conhece onde levará, qual será o ponto de chegada.

Um problema, ao invés, de escolha é quando a pessoa deve selecionar uma opção entre um pluralismo de alternativas, das quais, porém, conhece mais ou menos o bem e o mal, o pró e o contra e assim por diante... Portanto, o manager é um que escolhe, resolve problemas de escolha e para fazer isto serve-se de critério de razoabilidade. Para escolher de maneira razoável, ocorre um critério de racionalidade.

Para decidir, a racionalidade não serve, porque quem decide (decidir vem do latim que quer dizer cortar, romper...) não sabe o que acontecerá quando houver realizado a decisão.

A imagem que ocorre é aquela do explorador que caminha: a certo ponto encontra-se diante de uma encruzilhada, deve decidir se pegar o caminho da direita ou da esquerda, mas não conhece onde os dois caminhos o levarão.

Entendeis a diferença? Pois bem, o empreendedor é alguém que decide. Quando se diz: mas eu quero saber... quer dizer que esta pessoa não tem a alma do empreendedor; poderá no máximo ser um bom manager, dado que o manager quer saber onde é preciso chegar. O empreendedor, pelo contrário, é guiado por aquilo que, em grego, Aristóteles chamava de phronesis, que quer dizer a sabedoria. Ao passo que para escolher requer-se a racionalidade e basta, para decidir requer-se a sabedoria e sabeis que se pode ser inteligentíssimos, mas não sábios.

Hoje o mundo está cheio de pessoas inteligentes, mas pouco sábias, portanto não se decide, e quando não se decide – como o mito da cabeça de Medusa nos lembra – se resta bloqueados e vos lembrais que na mitologia grega ocorria decidir, isto é, cortar a cabeça de Medusa, porque se tua olhavas restavas petrificado, e é aquilo que acontece ainda hoje, aliás hoje mais que ontem.

Temos ótimas pessoas que sabem escolher, sabem resolver problemas de escolha, mas não são capazes de decidir, porque para decidir ocorre sabedoria e, portanto, coragem. Coragem é palavra que remete ao coração, para decidir requer-se coração; para escolher se requer a cabeça.

Obviamente, alguém pode unir na mesma pessoa física ambas as funções: do empreendedor e do manager, porém, conceitualmente as suas funções são distintas. Porque? Porque se eu não sei onde minha seleção me levará, posso ser levado a seguir somente se tenho o coração bom e o exemplo de padre Alberione dá-nos ampla confirmação, como ouvimos na bela conferência do professor Gianfranco Maggi (é já publicada ndr)

 

  1. Um verdadeiro manifesto em tema de apostolado

Eis, então, porque pode-se dizer que padre Alberione foi um empreendedor sui generis dada a sua escolha vocacional, mas um empreendedor. Era, porém, necessário precisar estas coisas porque alguém poderia dizer: bem, mas sim, era um bravo manager. Esta seria uma violência à história e vós deveis vos recusar, vós Paulinos, que alguém diga bobagens desse gênero.

Alberione foi um empreendedor porque era guiado por uma visão e era capaz de arrastar, - e como foi capaz de arrastar! -, a sua Família paulina difundiu-se em tantas partes do mundo. E se alguém lê Apostolado da imprensa, publicado em 1933, encontra como um manifesto, a ideia teológica de padre Alberione buscando dar um sentido a toda a sua obra sobre a qual ouvimos. Vós sabeis que este Apostolado da imprensa retoma as Anotações de teologia pastoral que havia publicado em Turim alguns anos antes, em 1912.

Obviamente, na primeira fase, como sempre acontece a todos os empreendedores, encontrou dificuldades: foram ditas aqui algumas delas, outras certamente o professor Maggi poderia ter contado; e dificuldades também com a Sacra congregação dos religiosos, e se não que gosto haveria? Em suma, se não houvesse burocracia também na Igreja, o jogo não seria mais bonito, porque – é preciso dizer – não nos devemos escandalizar se existe.

Devemos lutar para que a burocracia seja reduzida ao mínimo, porém, ela existirá sempre, porque a burocracia como me aconteceu de dizer em certo ambiente, é uma forma, a mais clara, que demonstra a existência do pecado original. Se alguém tem dúvidas sobre pecado original eu lhe peço para me demonstrar porque há a burocracia; porque ela não tem nenhuma explicação racional de nenhum tipo, nem filosófica, nem econômica.

A burocracia é algo de abnormal e obviamente um pouco de burocracia deve-se tolerar, mas nós na Itália temos a pior burocracia na Europa, que é nossa corrente aos pés, que impede a todos os políticos, empreendedores, cidadãos, associacionismo, de fazer o bem que poderiam e teriam em mente de fazer.

 

  1. Internet e o objetivo inteligência artificial

Ora qual é a mensagem para o hoje? Visto que já passaram cinquenta anos da morte de Alberione, a pergunta que me ponho é uma pergunta relevante: qual é a mensagem para o hoje da obra e do testemunho do padre Tiago Alberione? Limito-me somente a duas: a primeira diz respeito à seguinte circunstância: Alberione morre pouco antes da introdução de Internet; vós sabeis que Internet é aquela coisa, vamos chama-la assim, que conota a si a terceira revolução industrial; primeira revolução industrial no fim de setecentos na Inglaterra; segunda revolução industrial no fim de oitocentos na Alemanha; a Alemanha é o berço da segunda revolução industrial; a terceira revolução industrial na Califórnia, Estados Unidos e o modo mais sintético de expressar a quintessência da terceira revolução industrial é mesmo Internet.

Padre Alberione, porém, havia intuído algo, porque falava-se já de Internet que entra nos processos produtivos, obviamente não logo aqui entre nós, pois para nós é preciso esperar pelo menos quinze anos, mas já nos inícios dos anos Setenta, na América, Internet havia começado.

Conheceis a história da Internet, que é fascinante: porque foi descoberto ou foi utilizado por razões bélicas e do campo bélico transferiu-se ao industrial. E qual é o problema? Que, graças à chegada de Internet, inicia a se produzir hoje, a quarta revolução industrial: nós estamos bem no meio daquela que teve início com o novo século, mas se prospecta já a quarta. E a palavra de ordem da quarta revolução industrial é a inteligência artificial; hoje todos falam de inteligência artificial.

 

  1. A verdade e a falsidade na comunicação

O problema, que já padre Alberione havia intuído, é aquele que hoje está sob o nome de fake News e de fake Truth. Ora também aqui ocorreria um esclarecimento terminológico e, em suma, o inglês não se pode traduzir ad libitum de uma língua a outra; nós traduzimos fake News com notícias falsas... e é errado! Porque na língua inglesa fake não quer dizer falso, ainda que nós continuemos no equivoco, por culpa dos jornalistas, que difundem coisas erradas e depois a gente repete.

Fake, em inglês, quer dizer escondido ou quer dizer parcialmente verdadeiro; portanto, se uma notícia fosse falsa não seria tal. Como é possível não entender isto! Se eu digo que o mundo é quadrado, ninguém obviamente acredita. Para que uma notícia seja crida é preciso que tenha as aparências da verdade, diversamente ninguém acreditaria, portanto, fake News – os ingleses nisto são bravos – quer dizer uma verdade obnubilada, escondida, parcialmente verdadeira, que tem os traços da verdade mesma. De modo que, em tempos mais próximos a nós, isto é, na quarta revolução industrial, nestes últimos vinte anos, às fake News foi associado o fenômeno das fake Truth, isto é, das verdades parciais, das verdades escondidas. 

Ora o ponto é que as fake Truth são muito mais perigosas do que as fake News, e isto não percebemos, suficientemente. Talvez, o faremos, a meu ver, porque não se pode continuar assim. Vede, uma fake News logo ou mais tarde é revelada; talvez passam meses ou anos, porém, diante de uma fake News aparece alguém que apresenta o pedaço, o documento que falta, que demonstra a falsidade; mas as fake Truth não têm esta característica porque a fake Truth é uma crença que inicia, em pequenos grupos, que vai se difundindo, é recebida como acreditável por um número crescente de pessoas e após certo lapso de tempo passa a ser acreditada como verdade.

Vós sabeis que esta posição filosófica havia sido antecipada no final de Oitocentos pelo filósofo americano Charles Peirce, que é o fundador do pragmatismo. O pragmatismo é uma filosofia que na Europa nunca criou raízes, ainda menos na Itália, mas na América sim. O que disse, no final de Oitocentos Charles Peirce?  Que a verdade em sentido objetivo não existe; a verdade é uma construção social, isto é, a verdade é tudo aquilo que um grupo de pessoas suficientemente numeroso crê, e que não é considerada falsa no arco de algum tempo, que pode ser um, dois, cinco, dez anos. Portanto, se nós começamos a nos convencermos que certa coisa é verdadeira e a difundimos, e então a imprensa se torna instrumento de difusão disso, passado certo número de meses ou anos ninguém objeta, aquela é a verdade.

Peirce diz isto num seu escrito e quando saiu, no final de Oitocentos, não teve muita ressonância, sobretudo na Europa. De fato, quem de vós fez estudo de filosofia em geral, sabe que Peirce não é certamente um filósofo que é tomado como referência. Mas hoje ele é o filósofo. Porque o fenômeno das fake Truth acabou por dar valor à conjectura de Peirce. Se fosse vivo, Peirce diria: viram que eu vos havia dito?

Tomai o caso, a nós muito próximo, dos No vax. É exatamente isto: basta que um grupinho de pessoas diga certa coisa, esta se difunde, e certo número de pessoas acredita. Eu espero que se intervenha rápido a fazer prevalecer a razão, a razão no sentido pleno do termo, porque diversamente o risco é que se prossiga nesta direção, depois de um pouco de tempo, esta se torna a verdade de todos. E quando uma coisa se torna verdade, automaticamente se transforma em ato político; porque depois o político de turno, ou o policy maker, deve se adequar. Portanto o problema não é aquele de dizer: tu tens uma opinião eu tenho uma outra e cada qual fica com a sua. Tomara que fosse assim.

 

  1. O projeto de Gafam

O fenômeno das fake Truth, como vós sabeis, é hoje exaltado pelo projeto trans-humanista. O projeto trans-humanista é coisa séria. Nós italianos somos, demasiado, feitos assim; somos superficialões bons, mas superficialões, porque nos damos conta de certos processos quando já é demasiado tarde, quando os bois já saíram do curral. Mas vós sabeis que na Califórnia há dezoito anos foi fundada uma nova universidade da qual os jornalistas nunca falam, na Itália, pelo menos eu nunca os ouvi; a University of singularity, a Universidade da singularidade. Vós direis por que na Califórnia? Porque Gafam está na Califórnia.

Quem é Gafam? Google, Amazon, Facebook, Apple e Microsoft. São cinco e para fazer antes se diz Gafam. Evidentemente, têm uma potência de fogo, que já sabemos, e que financiam esta universidade privada que se chama Universidade da singularidade, a qual desenvolve o projeto trans-humanista. A ideia do projeto trans-humanista é chegar entre 2050 a superar o ser humano, isto é: o ser humano não é que desaparecerá, mas não servirá mais a nada, porque fará tuto a inteligência artificial dotada dos novos algoritmos (ou seja, ligada aos algoritmos quânticos, para usar o termo técnico). Afirmaram, especialmente o professor Raymond Kurzweil, que é o chefe de pesquisa, que vai chegar, em 2050, a criar não somente a inteligência artificial, esta já existe, mas a consciência artificial e, portanto, o homem, como o conhecemos há séculos e milênios, não existirá. Isto é, o homem continuará a existir na sua corporeidade, mas para as coisas irem adiante não haverá mais necessidade da consciência humana e, sobretudo, do princípio de responsabilidade. Ora vós entendeis que isto é um problema de grande relevância. E direis: mas os outros estão calados? Não, há o outro projeto que se chama néo-humanista, isto é, o oposto do projeto trans-humanista, que tem a sua fortaleza na Europa. O problema é que os outros investem dinheiro sobre dinheiro, enquanto nós nada investimos.

A Comissão europeia tagarela, tagarela, mas não realiza nada, neste plano; porque propostas haviam sido apresentadas nos últimos anos para criar o análogo da Universalidade da singularidade, isto é, um centro de altíssima pesquisa que elabore um pensamento, que contraste o avanço do outro.

Se fosse vivo padre Alberione, eu vos asseguro, que criaria uma esquadra para, de fato, veicular pelo menos em nível de informação de base, estas coisas, porque o povo nada sabe disso; ninguém lhe fala disso; ao contrário, quando se fala de inteligência artificial, todos ficam felizes e contentes: ah que belo! Haveis visto aquele pequeno tolo de Facebook: usou até uma palavra – meta – e vós sabeis que explorou o equívoco, porque meta em grego quer dizer além. Portanto, além do humano: transumanismo; trans em latim quer dizer além.

Porém a mesma palavra meta na língua hebraica o que significa? Morte. E ele aproveitou exatamente daquele equívoco. Porém, repito, enquanto tudo isto acontece, o povo não é informado; pelo menos ser informados. Padre Alberione, para mim lá do alto, está se irritando, está se revirando no túmulo, porque diz: deixa-me ir lá em baixo que crio novas tipografias (em sentido metafórico). Eis, então, a primeira mensagem que para o hoje nos vem de uma figura como aquela do padre Alberione.

 

  1. Ocorre transformar mais do que reformar

A segunda mensagem está ligada, ao invés, à figura atual do empreendedor. Ora o empreendedor é um agente de transformação da sociedade; isto foi padre Alberione. O que quer dizer ser agente de transformação? Isto é, a realidade atual de nossas sociedades não pode ser simplesmente reformada, porque as reformas as querem os conservadores. Qualquer um é livre de ser conservador, nada em contrário, porém, deve dizê-lo, não deve fazer as fake Truth, isto é, fazer crer que fazer as reformas queira dizer ser, como se diz, de esquerda; mas queremos brincar! Reformar, em italiano, quer dizer re-forma, isto é, dar nova forma a um conteúdo que é sempre o mesmo; é aquilo que se chama green washing: conheceis esta expressão, como aqueles que se pintam de verde para dizer que mudam, e invés não é assim. Aquilo do qual hoje a sociedade nossa tem necessidade é da transformação, não de uma reforma. Fazemos a reforma da escola? Pois nos últimos vinte anos fizemos quatro reformas e sempre pioraram. Porque as reformas pioram a situação. É necessário transformar a escola, a universidade; e a mesma coisa vale para os outros âmbitos.

Então, dizer que o empreendedor é um agente de transformação da sociedade, vós entendeis o que quer dizer, é uma coisa muito importante.

Tempo atrás, no início de 2021, papa Francisco, que é um Papa meio especial, agora já o sabemos, meio “doido”, recebeu um grupo de empreendedores internacionais, entre os quais muitos americanos, e cumprimentando-os diz: vós sois portadores de uma missão nobre. Não disse vós sois aqueles que fazem as casas de fero, aqui e lá, não! Vós sois portadores de uma missão nobre. Eu penso que ninguém tenha dado uma melhor definição de empreendedor do que esta: missão nobre. E qual é a missão? Aquela de transformar; de transformar aquelas porções da realidade atual que, por um motivo ou por outro, não vão bem e que necessitam de ser, de fato, mudadas.

Eis, então, qual é hoje o ponto: nós estamos vindo de uma estação que durou muito, talvez demais, pelo menos a meu gosto, durante a qual prevaleceu o pensamento neoliberista, alimentado, como vós sabeis, pela Escola de Chicago. Chicago, nos Estados Unidos, onde Milton Friedman, o fundador da escola, havia definido a empresa como máquina de dinheiro. Se alguém não acreditasse nisso, leia-se o ensaio de John Ladd, um economista americano aluno de Friedman, obra de 1970, o ano antes da morte do Padre Alberione.

Afirma Ladd: a empresa é uma máquina de dinheiro. As máquinas não têm consciência, portanto, é inútil pedir à empresa um comportamento ético, porque as máquinas, em sentido próprio, não devem fazer as contas com a ética, e assim por diante. Ora, muitos acreditaram nesta concepção, por muitos anos, virtualmente por todos, até em tempos recentes. Quando tudo isto cessa? Com a crise de 2008, quando chega crise financiaria que, como sabeis, teve sequelas enormes. De fato, é raro, aliás impossível, que alguém tenha ouvido, de 2008 para frente, que alguém dissesse: eu defendo o neoliberismo; no máximo dizem: nós somos pelo liberalismo; mas o liberalismo é outra coisa. O liberalismo é uma coisa séria porque é uma teoria política filosófica. O neoliberismo é uma teoria econômica, à superação da qual quem deu o golpe final foi o papa Francisco, que, dado que não tem medo de ninguém, não lhe importa nada quando alguém lhe diz: mas sabe que por aí escrevem que tu... Sim, sim, fazem bem em escrever assim, e assim me divirto ainda mais... Francisco faz bem em fazer assim, a meu ver, porque se levasse em consideração todas as bobagens que dizem por ai...

 

  1. O golpe final dado ao neoliberismo

Portanto, Francisco deu o golpe final ao neoliberismo quando publicou a Evangelii gaudium, em 2014. Havia iniciado o pontificado apenas em 2013. Não se trata de uma encíclica, é uma exortação pastoral, como se diz tecnicamente; mas vede que é de uma profundidade enorme, por certos aspectos superior a documentos sucessivos, porque é em Evangelii gaudium que papa Francisco diz: a tese do trickle-down effect é falsa; é cientificamente falsa.

Teve a coragem de dizer isto; cientificamente do ponto de vista econômico. Trickle-down quer dizer, em italiano, gotejamento e é a tese que andava, então, de boca em boca, de todos os neoliberistas, agora não mais. O que diz essa tese? Uma maré que sobe levanta todas as barcas. Por isso não nos preocupemos com os pobres, daqueles que não aguentam. É importante fazer a maré subir, isto é, aumentar a torta, aumentar o crescimento, aumentar de todo jeito. Porque depois, por via do gotejamento, haverá para todos. Vós vos lembrais no Evangelho as migalhas do pobre, na mesa do rico Epulão? Do pobre que diz: dá-me pelo menos as migalhas que caem.

E então estes diziam: vede se nós aumentamos a taxa de crescimento a acumulação de capital e de bem, etc, acontecerá para todos. Papa Francisco era papa há um ano e ainda não era conhecido como hoje e teve coragem de dizer: não! E tinha razão, obviamente. É claro certamente que quando papa Francisco se empenha sobre certas coisas não é tão ingênuo de fazê-las porque as sonhou durante a noite, pergunta antes às pessoas que se ocupam sobre aquela temática, se tal tese tem fundamento científico ou não. Um pouco como a Laudato sí: o capítulo segundo tem um fundamento científico, por detrás do qual há cinco prêmios Nobel, e outros tantos cientistas e assim por diante. Fechado parêntesis.

Portanto é claro que desde então não se usa mais esta vergonhosa metáfora porque o trickle-down tornou-se trickle-up que quer dizer: o efeito de gotejamento opera em sentido contrário, porque hoje há os pobres que financiam os ricos. Vós o sabíeis, ou não? Se não o sabeis eu vos dou os números, vos dou as referências e fazeis as vossas pesquisas. Enquanto antes se pensava: tu te tornas rico, depois darás um pouco de migalhas aos outros, isto por assim dizer, se acreditava em Robin Hood, que roubava dos ricos para dar aos pobres; ao passo que o xerife de Nottingham, roubava dos pobres para dar aos ricos, que é aquilo que nos últimos decênios, a partir de 1980, aconteceu.

 

  1. A responsabilidade civil de empresa

Eis então o ponto de chegada do discurso: quando se diz que o empreendedor é agente de transformação, faz-se referência a isto. Porque os empreendedores verdadeiros, e eles existem, por fortuna, na Itália, como neste território piemontês, se ofendem em dizer: nós somos os maquinistas de uma máquina de fazer dinheiro. Se vós falais assim com estes empreendedores, se ofendem: o quê estás dizendo? Eu deveria viver para alimentar uma máquina que faz dinheiro? Não, eu sou parte da minha sociedade, eu quero contribuir para o desenvolvimento, para o progresso.

Eis, então, qual é o ponto: devemos passar da concepção da responsabilidade social da empresa à concepção da responsabilidade civil da empresa. Padre Alberione conhecia a responsabilidade social da empresa porque esta expressão nasce na América em 1953 e ele morre em ’71, era homem de cultura e seguia tudo. Porém ele tinha entendido, obviamente não sendo economista de profissão, que havia algo que não estava certo.

Porque? Porque com a responsabilidade social nós pedimos às empresas para não fazer, não explorar os operários, não evadir os impostos, não poluir demais e assim por diante. Com a responsabilidade civil, ao invés, pede-se à empresa de fazer: isto é, de contribuir juntamente com outros, membros da sociedade civil, aos movimentos, a tudo aquilo que se agita numa sociedade, contribuir numa obra de transformação. Esta é a vocação nobre do empreendedor: deve ser um que arrasta, um que arrasta outros componentes da sociedade para dar início a projetos ou processos de transformação; eis em qual sentido eu interpreto a obra e a figura de padre Alberione.

Ele foi um empreendedor civil, isto é, um empreendedor que concebeu como sua missão aquela de não se contentar de quanto já estava adquirido e, sobretudo, de atuar para, diríamos hoje, prosperidade inclusiva; prosperidade inclusiva quer dizer uma prosperidade para todos, não só para alguns e, sobretudo, uma prosperidade que recrie a aliança entre o homem e a natureza e sobre isso a Laudato sì nos deu, por assim dizer, o lá definitivo.

 

  1. Beato porque soube “lançar-se para frente”

Gosto de concluir relembrando como hoje teríamos verdadeiramente necessidade, em geral, mas também dentro da Igreja católica, de personagens como padre Alberione. Portanto, vós Paulinos, fazei bem. Porém dizei-o, não tenhais medo; dizei-o, porque, há também a nossa Igreja... Nossa porque eu me identifico. Porém, há demasiadas áreas de burocracia que impedem de fazer o bem possível e, sobretudo, impedem a quem quer fazer o bem, de fazê-lo.

Porque eu não me maravilharei nunca se alguém me diz: eu não quero fazer o bem; me maravilha, me irrito se alguém não querendo fazer o bem impede a outros de fazê-lo. Isto não podes fazer. Não sei se o conceito está claro. E a burocracia faz isto: impede àqueles os quais numa forma organizada ou menos, queiram agir para o bem comum, impedem de fazê-lo.

Desejaria concluir com o epigrama que Goethe põe nos lábios dos anjos, quando procuram tomar a alma de Faust das garras do demônio.

Escreve Goethe no Faust: «Aquele que constantemente se empenhou em progredir, aquele é quem podemos salvar». Eis padre Alberione, durante a sua vida, procurou progredir constantemente; esta é a razão pela qual ora está sentado entre os bem-aventurados.

 

 

[1] Título do original: “La vocazione di un vero trascinatore”, sem perfeito correspondente em Português.

Agenda Paulina

28 abril 2024

V di Pasqua (bianco)
At 9,26-31; Sal 21; 1Gv 3,18-24; Gv 15,1-8

28 abril 2024

* FSP: 1994 a Santiago de los Caballeros (Rep. Dominicana).

28 abril 2024SSP: D. Vincenzo Mancardi (1973) - D. Luigi Ranieri (1982) - D. Sergio Costamagna (1993) - D. Giovanni Turco (2007) - D. Nicola Baroni (2019) • FSP: Sr. Margherita Boetti (1979) - Sr. Ester Innocenti (2003) - Sr. Cristina Pieri (2010) • PD: Sr. M. Agape Saccone (2008) - Sr. M. Carlina Cadavid Velásquez (2021) • IGS: D. Angelo Noto (1988) - D. Ennio Ori (2009) - D. Vincenzo Giunta (2016) • IMSA: Amelia Aguirre (2009) - Leonila Ricafort (2022) • ISF: Paola Taormina (2017) - Vincenzina Cardoni Mazzanti (2018).

Pensamentos

28 abril 2024

Amare, poiché Dio è amore e quindi dove c’è carità, c’è l’amore che è Dio e dove non c’è la carità, non c’è l’amore, perché l’amore è Dio. Allora adesso: esame sopra la carità vicendevole (APD56, 264).

28 abril 2024

Hay que amar, porque Dios es amor y por tanto donde hay caridad hay amor que es Dios y donde no hay caridad no hay amor, porque el amor es Dios. Ahora pues: examinémonos sobre la caridad recíproca (APD56, 264).

28 abril 2024

Love, because God is love and therefore where there is charity, there is love, which is God. And where there is no charity, there is no love, because love is God. So now: examination on mutual charity (APD56, 264).